Biografia de uma sentença

No carro, entre uma velocidade moderada à ousada, passando pela rua dos Chorões, rumo ao centro da cidade, ao meu lado, Bibiana inicia uma conversa meio desconversada: 

- Mãe, conheci um carinha tão legal... Quero ficar com ele pra sempre.

Como continuei calada, resolveu desenrolar novelos de elogios para construir a imagem que ela queria que eu tivesse do Luís que naquela época era só dela (hoje, de todos nós). Ainda, silenciosamente, enquanto dirigia, refletia, servindo-me das palavras carinhosas que iam se distanciando levemente de mim. Engraçado é como as pessoas inventam-se umas as outras como inventam a arte da vida! Tudo é criação. Tudo é invenção. E o olho com que os seres humanos criam-se e recriam-se uns aos outros estabelece sempre uma perspectiva, peculiar, própria a cada criador. É um encantamento só!

Sorrateiramente, Luís foi chegando a nossa casa, a nossas vidas. A cada dia chegava um pouco mais. A demora da aproximação ficava por conta da timidez que respondia por ele. E aquela touca, meu Deus? Parecia uma máscara deslocada do lugar que lhe era próprio. Ainda bem, pois assim podíamos perceber ainda que de relance que ele era o “Cara”. E apostamos nele como o fez nossa filha. 

Nesta construção da conquista da família, foi dado tempo ao tempo. Aos poucos, mais um prato na mesa, uma preocupação a mais com as preferências dele, um beijo a mais de filho, um olhar carinhoso de cumplicidade, um abraço gostoso de quem já não pode se ausentar e, sobretudo, a certeza de que o amor deles solidificou e estreitou ainda mais nossa família. Tudo aconteceu segundo a força do destino, a vontade de Deus, profetizado, enfim, no querer maior de nossa  Bibiana: “ Mãe, quero ficar com ele pra sempre.” 

Sueli Monteiro, mãe da noiva